Transformação Digital: desafios e soluções
Transformação digital tornou-se um daqueles termos que todo mundo repete, mas poucos compreendem em profundidade. No mundo corporativo, ela aparece como promessa de eficiência, agilidade e modernização. Mas na prática, muitas empresas ainda confundem digitalizar com transformar. O problema não está nas ferramentas, está na forma de pensar. Está no modelo mental que sustenta — ou bloqueia — qualquer tentativa real de inovação. Neste artigo, compartilho experiências reais vividas em campo, onde acompanhei líderes e equipes enfrentando as dores e delícias de mudar. Mais do que conceitos, trago provocações e caminhos práticos para ajudar instituições a evoluírem com consistência e propósito.
Você ainda acredita que transformação digital é sobre tecnologia?
Ao longo de minha trajetória, pude confirmar que transformação digital tem mais a ver com pessoas do que com sistemas. Com mentalidade, muito mais do que com dispositivos. E com cultura organizacional, antes mesmo de processos.
Deixe-me te contar uma história:
Anos atrás, fui chamado para apoiar uma empresa de médio porte em um projeto de “inovação e digitalização”. Cheguei com a expectativa de encontrar um time pronto para explorar novos caminhos, mas encontrei um cenário comum a muitas organizações: lideranças com medo de errar, equipes sobrecarregadas, processos antigos travando a produtividade e uma ideia fixa de que tudo se resolveria com um novo sistema.
No primeiro encontro com os gestores, perguntei: “Qual é o problema que vocês querem resolver?”. A resposta foi direta: “Queremos ser mais digitais, implantar um novo software de atendimento e automatizar processos.”
Ao aprofundar com perguntas estratégicas, descobri que a principal dor era o tempo de resposta ao cliente e a insatisfação com a experiência de atendimento. Mas ninguém havia perguntado às equipes da linha de frente o que, de fato, dificultava o dia a dia. Menos ainda aos próprios colaboradores.
Foi quando eu percebi: a transformação digital estava sendo tratada como um projeto de TI, e não como um movimento organizacional.
Modelos mentais: o maior desafio da transformação digital
Carol Dweck, psicóloga da Universidade de Stanford, mostrou em suas pesquisas que há dois tipos de mentalidade: mindset fixo e mindset de crescimento.
Nas instituições, o mindset fixo aparece quando ouvimos coisas como:
- “Isso sempre foi assim.”
- “Aqui não funciona.”
- “O pessoal não vai aceitar.”
A transformação digital exige lideranças com mindset de crescimento, que digam:
- “Vamos testar.”
- “Como podemos fazer diferente?”
- “Qual parte do processo podemos melhorar hoje?”
A tecnologia pode até impulsionar, mas é o modelo mental que conduz a mudança.
Transformar digitalmente uma organização é integrar tecnologia, processos e pessoas de forma coerente. Mas, antes disso, é romper com velhos paradigmas, com a crença de que inovar é privilégio de empresas de tecnologia, com a ideia de que o novo sempre vem de fora e com a cultura do controle excessivo que sufoca a criatividade.
Segundo a MIT Sloan Management Review (2019), mais de 70% dos projetos de transformação digital falham não por falha técnica, mas por resistência cultural e falta de alinhamento entre liderança e equipes.
Naquele projeto, antes de qualquer solução tecnológica, eu propus uma escuta ativa com todos os níveis da cooperativa. Facilitamos conversas, levantamos dados, envolvemos os clientes internos. E descobrimos que o maior gargalo era um fluxo de autorização manual, com três aprovações desnecessárias. Nada que um novo sistema fosse resolver sem antes revisar o processo e alinhar a cultura.
A verdadeira transformação começa aqui: na coragem de fazer perguntas incômodas.
O que você precisa parar de fazer em sua empresa se quiser inovar de verdade?
- Parar de associar transformação digital apenas à aquisição de ferramentas;
- Parar de ignorar as resistências internas e tratá-las como frescura;
- Parar de tomar decisões digitais em gabinetes isolados da operação;
- Parar de achar que capacitação digital é só curso de Excel ou plataforma EAD.
Transformar é um verbo coletivo.
Se você não engaja, escuta e desenvolve as pessoas, você está apenas pintando de digital o que ainda é analógico na essência.
O que funcionou na empresa que citei acima?
- Implementamos um piloto com fluxo digital simplificado em apenas um setor inicialmente;
- Realizamos treinamentos curtos, objetivos e baseados em casos reais de empresas de médio porte;
- Utilizamos ferramentas simples (como Trello e Forms) para testar soluções antes de investir em sistemas complexos;
- Estimulamos o protagonismo das equipes na construção das soluções;
- Criamos um comitê de inovação com participação rotativa de colaboradores.
Resultado? Em 6 meses, a percepção de agilidade e autonomia das equipes aumentou, o tempo de resposta caiu, as avaliações de satisfação do cliente com a experiência de atendimento melhoraram significativamente e o sentimento de honra por fazer parte da mu
dança surgiu naturalmente por parte dos colaboradores.
Eixos críticos da transformação digital
Existem 5 eixos que sustentam uma transformação digital efetiva:
- Tecnologia com sentido: usar ferramentas para resolver problemas reais;
- Cultura de apren
dizado: estimular o erro como parte do processo de inovação;
- Colaboração intersetorial: quebrar silos e favorecer a co criação;
- Foco no cliente: redesenhar processos a partir da jornada do cliente;
- Liderança transformadora: líderes que inspiram, facilitam e provocam mudanças.
Sem esses eixos, qualq
7 verdades que você precisa ouvir sobre transformação digital:
- Se você ainda espera o “momento certo”, ele não vai chegar.
- Sua equipe não está contra a mudança. Ela está contra a forma como você comunica.
- Planilhas não são inimigas, mas não sustentam uma estratégia digital.
- O digital não elimina o humano. Ele potencializa o que você escolhe valorizar.
- Liderar a mudança é mais sobre escuta do que sobre comando.
- A tecnologia que você despreza hoje é a que seus clientes esperam para amanhã.
- O modelo mental inovador é o que promove transformações sustentáveis.
- Escolha um processo simples e inicie um projeto-piloto digital;
- Crie espaços seguros para escutar os colaboradores sem julgamento;
- Use metodologias ágeis para testar, ajustar e validar;
- Não comece com a ferramenta. Comece com o problema;
- Construa alianças internas com quem quer mudar. E respeite o tempo de quem ainda resiste.
Transformar é liderar com escuta, com dados, com coragem e com humildade.
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